Entrevista com Jorge Bichuetti realizada no dia 05 de agosto de 2022, por Valquécia Costa

  1. Apresentação pessoal.

Jorge Bischuetti, 62 anos. Médico e estou na Casa da Cultura penso que há uns 08-10 anos.

  1. O que é ser médium para você?

Ser médium é o exercício consciente e continuado da condição de intermediário entre o mundo corpóreo e o mundo dos espíritos. Então é na realidade trabalho de mediação, de ponte entre essas duas realidades.

  1. Como iniciou sua participação no Movimento Espírita?

Eu comecei no espiritismo com 17 anos a partir da leitura da obra de Kardec no CentroEspírita Joana Dar´c* de Conceição das Alagoas. Eu li porque eu gostava muito de ler, terminei a leitura da obra do Jorge Amado e do lado tinha uma obra que me interessou um azul, um azul escuro com uma lâmpada, era a coleção completa de Kardec eu li toda ela e decidi que gostaria de conhecer aquela religião. Não sabia onde existia um grupo que trabalhasse. Então, eu estava na janela vi a minha vizinha, a Dona Fiota subir, e eu não sei porque que eu identifiquei a água fluida com Centro, porque eu não conhecia, no Kardec não tem essa citação da água fluida. Ela subiu com a garrafa de água eu fui atrás dela. Vi onde ela entrou e aí eu falei “no próximo dia que ela vier eu vou entrar” e desde então estou na Casa Espírita. *CentroEspíritapróximodaCasadoJorge.

  1. Como percebeu que era médium ostensivo(a)? (Caso não tenha abordado na pergunta anterior)

Aí a partir do trabalho, da frequência, com 10 dias de Centro eu comecei a comentar o Evangelho e a participar dos estudos. Aí esse cotidiano me levou ao desenvolvimento do passe, como passista, e um dia sentado no grupo mediúnico o Espírito benfeitor pediu que eu pegasse o lápis e desde então se iniciou os treinos da psicografia. Foi um tempo em que a vidência tornou-se mais clara, eu via alguns espíritos, percebia. […]

  1. Qual é/são as variedades da sua faculdade mediúnica e como foi a decisão de seguir atuando como médium dentro dessa/dessas variedades na Casa Espírita?

Sou médium passista, psicografo. Tenho uma vidência, tenho a intuição, tenho efeitos físicos. Tenho o desdobramento e tenho a incorporação.

Continuei e as orientações vieram no sentido de disciplinar. O Chico me orientou o treino diário da psicografia e eu mudei para Uberaba, no primeiro momento eu psicografava na Casa Adelino de Carvalho e no Centro Espírita Professor Chaves, depois eu fui para o Bitencourt Sampaio e continuei psicografando no Lar da paz de Jesus.

E como você veio para a Casa da Cultura?

Desde a juventude eu tinha uma grande amizade com a Jane, a gente frequentava a mocidade juntos e em determinado momento, agora, há uns 08-10 anos, tinha uma possibilidade de um grupo ficar sem coordenação, o que acabou não acontecendo, mas eu já tinha vindo. E ela pediu pra que eu desse uma força. E num dia que eu vim visitar porque eu trabalhava então no Bitencourt onde eu continuo ainda lá. […] Aí vim e fiquei, e nunca peguei a coordenação inclusive. […] Imediato, aí veio à psicografia da sexta-feira que já é um trabalho que eu realizei durante muitos anos no Lar da paz de Jesus, o receituário com o Dr. Henrique Krueger e a psicografia da mensagem. […] E depois veio o Espaço de Acolhimento e Saúde Integral Henrique Krueger nas sextas à tarde.

  1. Como é lidar com a mediunidade no dia a dia, fora da Casa Espírita?

Eu acho que são duas coisas que me ajudam muito, de um lado, eu sempre privilegio a mediunidade na Casa Espírita enquanto mediunidade ostensiva. Segundo, eu nunca me inibo, nunca corto a percepção de pensamentos, de energia e eu entendi e isso me ajudou muito, que ter autocontrole sobre isso, identificar fluidos, identificar pensamentos, saber peneirar, era a base do desenvolvimento mediúnico. Porque pra mim é muito importante a ideia da mediunidade enquanto fato do cotidiano, enquanto sintonia, trocas, percepções.

  1. Como a faculdade mediúnica pode contribuir para crescimento espiritual?

Porque no fundo o que diferencia o espiritismo das outras religiões é essa abertura para o crescimento com um diálogo menos burocratizado com o mundo espiritual. Então, o diálogo com o mundo espiritual tem essa finalidade, de dar base sólida a fé, de construir um olhar consistente sobre a esperança. Então, a mediunidade nos ajuda a viver com mais equilíbrio e com mais espiritualidade. Então assim, a mediunidade me ajuda no cotidiano, que me ajuda na reforma íntima, uma vez que ela é instrumento do diálogo que eu tenho que fazer e como toda pessoa tem que fazer consigo mesma para superar as dificuldades e incrementar uma vida de mais positividade, mais virtudes.

Algumas pessoas dizem que médiuns ostensivos possuem mais facilidades porque ele tem mais contato com os espíritos como se quem não fosse não tivesse contato de outras formas.

Mesmo porque os Espíritos nunca resolveram nada por mim, mas me instruíram muito, às vezes de falar paciência, reflita com calma, estude, busque no conhecimento espírita a diretriz que você deseja adotar nesse momento da sua vida.

  1. Qual a importância do estudo para o médium?

O estudo ele tem uma importância, primeiro, porque ele vai garantir uma qualidade na filtragem, ele vai permitir uma melhor sintonia e ele vai capacitar o médium no exame do conteúdo recebido, garantindo uma fé raciocinada, lógica, sem absurdos, sem viagens. Então, o estudo ele me permite o desenvolvimento como espírito e evita o parasitarismo. O médium não pode ser parasitário do que pensam os Espíritos ele tem que aprender a pensar.

  1. Além das obras básicas qual livro/livros você considera indispensável para leitura/estudo sobre a mediunidade e/ou médium?

Não é difícil. Eu acho a coleção do André Luiz, entre eles eu acho por incrível que pareça Nos domínios da mediunidade e Os mensageiros. Nos domínios porque nos ensina a entender a mediunidade na dinâmica do trabalho do cotidiano da fé. Os mensageiros porque nos alerta sobre a mediunidade enquanto uma vivencia do espírito e os perigos da queda, os equívocos que o médium pode cometer e as consequências disso para sua evolução. Mas assim, a obra de André Luiz, Seara dos Médiuns é fundamental porque esclarece e dá uma ética, e dá uma substância evangélica e uma claridade ética para o exercício da mediunidade. No invisível do Leon Denis, é um livro muito instrutivo e Diálogo com as sombras, acaba ajudando muito porque permite a pessoa se instrumentalizar para a Reunião mediúnica.

  1. Na obra Missionários da Luz o benfeitor Alexandre diz a seguinte frase “Sem o Cristo, a mediunidade é simples “meio de comunicação” e nada mais.” O que você pensa sobre essa frase?

O grande objetivo da vivência religiosa no espiritismo é a retomada do cristianismo na sua pureza, na sua profundidade, é trazer Jesus de volta. A mediunidade sem Jesus ela acaba sendo um experimento, um fenômeno, mas não tem a substância do convite ao exercício da fraternidade, então é muito importante.

  1. Qual o conselho para os médiuns vencerem o medo e a insegurança, já que são motivos de desistência da caminhada?

Medo e insegurança. Ir trabalhando pouco a pouco o ego. Porque o medo e a insegurança nascem do ego. Quando a gente descobre que a gente é falível, que a nossa doutrina não é da perfeição, mas do aperfeiçoamento, a gente não tem a ilusão da onipotência, então, também não tem o medo do erro, a gente tem a vigilância, uma vigilância que busca superar os perigos através dos estudos e da oração. Agora, a maioria dos médiuns para no medo por não perceberem, primeiro que a mediunidade não é um milagre, ela é uma construção. No começo ela é imperfeita, ela vai se aperfeiçoando, ela vai ganhando beleza e profundidade. E isso é uma realidade de todos. O desejo da perfeição e o medo de errar pode me tirar do experimento que é crescimento no caminho. Segundo, o medo dos espíritos é uma ilusão, não é a mediunidade que cria os espíritos, a gente é mais passível de influência não vendo do que vendo. Porque ao identificar eu percebo as trocas que estão acontecendo, quando elas estão surdina elas vão entrando nas frestas da vida.

  1. Fale sobre uma curiosidade que te marcou durante a sua trajetória na fase inicial da mediunidade.

Um caso curioso que eu lembro com muito carinho é que o exercício da psicografia me dava, duas curiosidades ligadas ao mesmo fato, eu tinha muita vergonha dos nomes e achava que podia estar errado e eu não tinha tanta preocupação com a forma, o conteúdo, os erros gramaticais. E foi um crescimento que me deu. Então com os nomes, o Joaquim Cassiano, um médium conhecido do Centro Espírita Vicente de Paula, hoje no plano espiritual, um dia a gente conversando ele falou “me traz suas psicografias eu gostaria muito de vê-las”.

E aí eu as passei a limpo. Aí falei “mas não vou levar com esse nome”. Aí então toda mensagem que tinha Eurípedes Barsanulfo eu substitui por irmão Raimundo. Aí ele leu e depois me disse “Jorge, muito boas as psicografias sua mediunidade é muito limpa, você só tá tendo uma dificuldade para captação dos nomes, essas que estão irmão Raimundo são do Eurípedes Barsanulfo essas mensagens”. Então eu fiquei assim, inclusive entendendo que às vezes a gente tem um julgamento, mas ligado ao medo da crítica, do que um aprendizado […].

E com o formato eu custei a entender que não era justa a gente não fazer a correção do português, então, eu tinha mensagens que eu ficava… Hoje eu releio elas e eram mensagens boas, a forma só tinha arranhões que eram defeitos do português. E cabe ao médium a correção, cabe ao médium desenvolver. E aí a pessoa diz assim “ah mas eu não tenho isso”. Não. Quem não gosta de literatura, quem não gosta da língua portuguesa não tem porque exercer a psicografia. Psicografia é um exercício literário do plano espiritual através da mediunidade.

[…] Não é uma coisa assim em que a forma não tem importância. Em que a correção não tem importância. O médium tem que se interessar e ir buscando. E com o tempo a minha amizade com o professor Fausto que me levou a entrar em contato porque ele falava, o Chico me manda pessoas pra aprender a arte poética, pra aprender conjugação, porque é o que vai fazer a capacidade da filtragem.

  1. Qual o conselho você pode deixar para os médiuns iniciantes?

Mediunidade pede estudo, oração, disciplina e uma seriedade que leva a pessoa querer a crescer paulatinamente entendem que ela é um instrumento de uma obra para o bem. A pessoa precisa se concentrar no bem que gera a tarefa que ela realiza para ela não se perder, porque às vezes grandes possibilidades de plantação boa são abandonadas porque a pessoa não viu a utilidade. Mediunidade é serviço, é oportunidade de ser útil. Isso não é só um rumo é também um alimento que nos ajuda a perseverar ou perceber a importância dela para quem recolhe os benefícios.

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